A ideia começou a germinar em Dezembro do ano passado, no dia do aniversário de uma grande amiga minha, onde tivemos oportunidade de reunir o núcleo duro do nosso círculo de amizades, o qual vem já dos tempos da pré-história, quando éramos ainda todos muito tenrinhos, estudantes e com um mundo novinho em folha à nossa frente, pronto para ser explorado.
Ao recordar, nesse dia, as peripécias em que acabávamos sempre por nos meter, quer fizéssemos por isso ou não, não conseguimos evitar de rir até às lágrimas, sem fôlego e com o meu filho, que me tinha acompanhado, a pedir-me: “mãe, tens de escrever sobre isto”.
A semente deste blogue andou a maturar até agora, à espera de balanço interior para nascer na altura certa. É claro, que todos os jovens têm todos o seu período de loucuras, graças a Deus! Quem nunca cometeu excessos, nos seus tempos de teenager inconsciente, ou até mais tarde, que se levante e atire a 1ª pedra (se, entretanto, esta ainda não tiver sido queimada para fazer algum charro...), mas o que precipitou o seu nascimento foi uma notícia publicada a 24 de Abril (há uma semana atrás, portanto), no Jornal de Notícias, que dava conta do regulamento criado este ano pela Federação Académica do Porto para a Queima das Fitas, o qual obrigava os fotojornalistas a entregarem uma cópia do seu trabalho à FAP de toda e qualquer foto efectuada dentro do Queimódromo (ou deverei chamar antes Cabródromo, tendo em conta à quantidade de bebedeiras de caixão à cova que por lá andarão a vomitar nestes dias?). Não achando suficiente, a dita FAP considerava a credencial de acesso ao recinto a facultar aos jornalistas uma forma de pagamento para a cedência das referidas cópias. Resumindo: “ou te comprometes a deixar aqui as cópias das fotos e permites-nos que censuremos o teu trabalho ou não te damos a credencial para entrares”.
Não quero discutir e nem vou entrar na questão se é ilegal ou não tal posição, porque, na minha opinião, acaba até por ser um ponto acessório. O que esta tentativa da FAP me parece é uma atitude sintomática dos tempos presentes, em que se querem cometer excessos, mas continuar com a “folha limpa”. Beber até fazer figuras tristes, mas continuar com a imagem impoluta de menino(a) bem, de quem não quebra um prato, mesmo que no auge duma bebedeira tenha decidido mostrar a partes pudibundas para quem lhe apeteceu ou outras atitudes muito mais extremadas, pois na atordoação dos vapores etílicos se esqueceu que estava num local público, porque quer a FAP queira ou não queira o Queimódromo, não sendo um local de acesso gratuito, não deixa de ser um local público.
Todos nós temos consciência dos excessos cometidos nestes dias (e noutros também) pelos jovens, universitários ou não. Como já escrevi, todos nós já passamos por isso duma forma ou de outra. Parece-me, no entanto, sinal dos tempos presentes que se queiram cometer excessos, mas não se queiram responsabilizar por eles, como se o facto de não haver provas apagasse o acto em si. Não será de admirar que na geração em que tudo é criado para alcançar a imagem ilusória da perfeição, desde corpos esculpidos a bisturi e a cânulas de lipoaspiração, e de mamas retocadas com silicone, até à recriação fabulástica da vida amorosa/social/profissional/financeira por forma a ser digna de vir esparramada ao sol em capas de revista como modelo a seguir(?), se queira também retocar com Photoshop o ar estonteadamente embriagado na Queima das Fitas. Na impossibilidade de retoque, é sempre possível fazer delete à dita foto e dizer que o ficheiro foi atacado por um qualquer vírus informático. E a FAP achar-se no direito de exigir isto, é outro sinal dos tempos que correm, em que não só pretendem ocultar os excessos como também se acham no direito de os ver ocultados.
A conclusão a que chego é que há algo de fundamental a distinguir a minha geração desta, a qual, a esta hora, se prepara para mais uma noite de desbunda total: a minha assume as asneiras que faz, esta não só não as assume, como ainda tem a lata de as querer ver bem escondidas (ou melhor será dizer apagadas?), não vá a loucura da noite aparecer escarrapachada no You Tube ou, pior ainda, ir parar ao e-mail dum futuro empregador de alguma multinacional, que não quererá por certo empregar alguém que não seja um sacana tão hipócrita quanto ele.
sábado, 1 de maio de 2010
Is My Generation Really Weird?
Publicada por Lilith à(s) 17:09
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